terça-feira, 28 de abril de 2009

Política, partidarismos e seus impactos

Reproduzo aqui íntegra de matéria de Marco Aurélio Weissheimer, publicada na Carta Maior, sobre o manifesto Anti-Tucanato, dada sua relevância na luta contra o modelo liberal de Estado... anti-democrático!
Desde que ingressei na faculdade de direito, em 1996, minhas matérias de constitucional, direito do trabalho, direito comercial, já eram lacionadas por partidários das políticas neoliberais que se inspiravam no processo de abertura das soberanias em prol da circulação de bens e capitais. Grande parte dos professores que tive, embora 'desconhecessem' o caráter ideológico do liberalismo, traduziam aos acadêmicos a grande evolução do estado brasileiro.
Por cinco anos fui uma das poucas vozes opositoras da Universidade - particular, positivista e voltada à formação de profissionais para o mercado - que, ao longo do tempo e das atividades curriculares, foi engolida pela necessidade, todavia, sem "perder la ternura jamás!".
A defesa cega pelas privatizações, alto custo do estado, terceirização das atividades e da produção como melhor via de solução da "alta" carga previdenciária é, desde aquela época e até hoje, a grande bandeira de luta dessa direita impregnada pela excelência e sucesso do liberalismo econômico.
Há ainda os mais ferrenhos defensores que afirmam "estatisticamente" que a Vale do Rio Doce causava prejuízo aos cofres públicos, assim como as Cias. Telefônicas, Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica, etc. Estes vão sempre continuar dizendo que a economia é a saída para todos os males e acreditam que a solução no campo estrutural é o Estado Mínimo, tal e qual o nosso Querido EUA.
Claro que todo este discurso é válido, ou não, dependendo de onde é o seu campo de análise ou atuação. Qual a sua posição na divisão do trabalho.
Como sempre fui das "massas", cá estou eu ... na campanha!
Não acho que a gestão do PT seja a 5ª Maravilha, mas em termos de investimentos no campo social em detrimento do econômico, é a 1ª vez na história que experimentamos isso!
Beijos!!!
"Carta de Porto Alegre" critica políticas de Serra, Aécio e Yeda

Seminário "Desmonte do Estado: o modelo tucano de governar", realizado na capital gaúcha, reuniu representantes das bancadas estaduais do PT no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo, de sindicatos de servidores públicos e movimentos sociais. Documento aprovado no final do encontro critica a agenda do PSDB que trata o Estado como vilão e os servidores públicos como inimigos. "Choque de gestão" e "déficit zero" tornaram-se as palavras de ordem em detrimento dos servidores públicos e dos serviços públicos prestados à população.

Marco Aurélio Weissheimer
Data: 27/04/2009

PORTO ALEGRE - As bancadas do Partido dos Trabalhadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, juntamente com representantes de sindicatos de servidores públicos e movimentos sociais dos três estados, reunidos no seminário “Desmonte do Estado: o modelo tucano de governar”, realizado nesta segunda-feira (27), em Porto Alegre, aprovaram no final do encontro um documento criticando a agenda do PSDB que trata o Estado como vilão e os servidores públicos como inimigos. A Carta de Porto Alegre afirma que “choque de gestão” e “déficit zero” tornaram-se as palavras de ordem em detrimento dos serviços e dos servidores públicos. O resultado imediato dessas políticas, diz ainda o documento, é a pauperização dos serviços públicos, permitindo o crescimento de seus parceiros privados, em todas as áreas, inclusive a segurança pública.

Para os signatários da carta, “a não aplicação dos recursos mínimos constitucionais em saúde e educação são exemplos clássicos desta política, ao mesmo tempo em que são desonerados os grandes oligopólios”. “É simbólico que a investida comece pela educação”, observam ainda. “A adoção de uma política educacional “fast food”, sem compromisso com a formação de uma consciência crítica, com currículos padronizados, voltados para a transmissão e não a elaboração do conhecimento. Alteração dos currículos de forma unilateral e em gabinetes, inchaço das salas de aulas, falta de diálogo e criminalização dos movimentos sociais e sindicais são uma constante”. A alteração nos planos de carreira, com o fim da progressão por tempo de serviço, o arrocho de salários e a ampliação dos empregos precários e temporários são outras políticas denunciadas na carta.

No Rio Grande do Sul, assinala ainda, esse processo está mais atrasado, em função das graves denúncias e escândalos de corrupção que atingiram o governo Yeda Crusius. O documento aponta a existência de uma blindagem midiática que esconde as mazelas dos governos Aécio e Serra e permite que Yeda “mantenha um certo equilíbrio instável, escondendo sua verdadeira face de desmonte do Estado”. O projeto implantado em MG, SP e RS, conclui a carta, não é só um ataque aos direitos dos servidores públicos, mas também aos setores da população que mais necessitam das políticas públicas. Diante deste quadro, o documento defende a unificação dos movimentos sociais, a constituição de agendas comuns para furar o bloqueio midiático e a intensificação das lutas pela transparência, democratização e universalização do Estado e dos serviços públicos.

O seminário foi promovido pela bancada do PT na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, na sede do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre. Pela manhã, o tema dos debates foi “Choque de Gestão: o funcionalismo como vilão”. À tarde, os debates trataram da luta dos parlamentos e dos movimentos sociais para enfrentar essas políticas. Participaram do seminário, entre outros, o líder da bancada do PT na Assembléia de MG, deputado Padre João, os deputados gaúchos Raul Pont, Stela Farias e Daniel Bordignon, o presidente do PT-RS, Olívio Dutra, o diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de MG, Antônio Carlos Hilário, o coordenador da Assessoria Técnica da bancada petista da Assembléia de MG, Carlos Morato, e a presidente do Sindicato dos Professores de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha.

A íntegra do documento aprovado ao final do encontro é a seguinte:

CARTA DE PORTO ALEGRE

Derrotados nacionalmente nas urnas, os tucanos viram as políticas adotadas pelo governo Lula suplantar as amarras do neoliberalismo, capacitando o país a enfrentar a atual crise econômica mundial: os novos investimentos públicos, a responsabilidade nas contas públicas, a ampliação das políticas sociais, as desonerações fiscais que mantém o consumo e reduzem o impacto sobre o emprego, combinados com uma crescente e contínua diminuição da taxa de juros e um considerável crescimento do mercado interno devido à política de ganho real do salário mínimo.
A nossa política externa, apostando na diversificação de parceiros econômicos, com ênfase para a América do Sul, Índia, China, África e o mundo árabe, diminuiu nossa histórica dependência do mercado americano, onde os efeitos da crise são mais expressivos.
FHC defendia exatamente o contrário, tentou levar o Brasil à ALCA para juntar-se ao México. Hoje, mais do que os EUA, o México está completamente imerso na crise e com graves problemas para superá-la.
A atual crise econômica internacional, mesmo apontando para uma falência do modelo, não tem sido debatida por seus defensores. Trata-se da crise do liberalismo econômico que tem como pilar o Estado mínimo, que foi adotado pelo governo FHC e está replicado nas gestões tucanas de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. A superação desta crise tem exigido a retomada do papel do Estado como regulador da
economia, aportando recursos públicos para salvar as instituições privadas colhidas na avalanche de falências e concordatas, medidas estas hoje largamente adotadas pelos países do chamado capitalismo central.
No período FHC, o liberalismo econômico foi aplicado com intensidade através da privataria, terceirização e concessões de serviços, isenções fiscais para grandes empresas, ausência de critérios definidos de desenvolvimento social, distribuição de renda e as instituições financeiras estatais sendo utilizadas para financiar as privatizações do serviço público, trabalhando à serviço do mercado especulativo.
A Ação do PSDB ficou restrita à adoção de seu projeto político nos estados em que governa, notadamente Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. O modelo liberalizante brasileiro passa a ter uma roupagem regional e combinada. “Choque de gestão” e “Déficit Zero” tornaram-se as palavras de ordem em detrimento dos serviços e dos servidores públicos.
Assim, nos três estados, a agenda passa a ter a máquina estatal como vilã e os servidores públicos como inimigos. Como resultado imediato, a pauperização dos serviços públicos, permitindo o crescimento de seus parceiros privados, em todas as áreas, como a segurança pública. A não aplicação dos recursos mínimos constitucionais em saúde e educação são exemplos clássicos desta política, ao mesmo tempo em que são desonerados os grandes oligopólios.
É simbólico que a investida comece pela educação. A adoção de uma política educacional “fast food”, sem compromisso com a formação de uma consciência crítica, com currículos padronizados, voltados para a transmissão e não a elaboração do conhecimento.
Alteração dos currículos de forma unilateral e em gabinetes, inchaço das salas de aulas, falta de diálogo e criminalização dos movimentos sociais e sindicais são uma constante.
Alteração nos planos de carreira, com o fim da progressão por tempo de serviço, substituindo conquistas dos servidores por critérios difusos e nomes pomposos que dependem da vontade do governante, provocando a estagnação de carreiras, privilegiando outras, arrochando salários.
No Rio Grande do Sul, o processo liberalizante está mais atrasado, tendo em vista a lotada agenda política da governadora que, sistematicamente, vê seu governo envolvido em graves denúncias e escândalos de corrupção. A blindagem da mídia esconde as mazelas dos governos Aécio e Serra, bem como permite que Yeda mantenha um certo equilíbrio instável, escondendo sua verdadeira face de desmonte do Estado.
É importante ressaltar que o projeto implantado em Minas, São Paulo e Rio Grande do Sul não é só um ataque aos direitos do servidores públicos. O modelo de gestão tão elogiado pela mídia impacta diretamente nas camadas que mais necessitam das políticas de Estado, na contramão do que tem caracterizado o governo Lula. Quem acaba pagando a conta dos “Choques de Gestão” e “Déficits Zero” é a própria população.
Torna-se imperativa a nacionalização do debate sobre o que vem ocorrendo nestes três estados. Esta pode ser uma alternativa importante para barrar a tentativa de avanço do neoliberalismo. Urge a unificação dos movimentos sociais, constituindo agendas comuns de desconstituição do bloqueio midiático, e a intensificação das lutas pela transparência, democratização e universalização do Estado e dos serviços públicos. Estes são os desafios do próximo período.

texto

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