quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

INÉDITO!!!! Habeas Corpus pela DPESP suspendeu a Revista Íntima (e vexatória!) às visitas de presos

Para conhecimento e divulgação!
Decisão inédita que suspende, temporariamente, a revista íntima invasiva aos familiares de presos.
Parabéns à Defensoria Pública de São Paulo!
Que este HC motive a luta em outros estados da federação (inclusive Santa Catarina!).

Habeas Corpus coletivo e preventivo pela Defensoria Pública de São Paulo SUSPENDEU a determinação da execução de exames invasivos em pessoas suspeitas de carregarem objetos ilícitos quando em visitas a presídios

PODER JUDICIÁRIO - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Despacho
Habeas Corpus Processo nº 0269428-71.2012.8.26.0000
Relator(a): FIGUEIREDO GONÇALVES
Órgão Julgador: 1ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL


Vistos.
No impedimento do Relator Sorteado em apreciar o pedido de liminar, passo a analisá-lo.
Trata-se de Habeas Corpus coletivo e preventivo em que a Defensoria Pública alega que a MM. Juíza de Direito Corregedora dos Presídios da Comarca de Taubaté (1ª Vara das Execuções Criminais) determinou a execução de exames invasivos em pessoas suspeitas de carregarem objetos ilícitos quando em visitas a presídios.
Afirma a MM. Juíza de Direito: “... com fundamento no artigo 244, da lei processual penal, determino à autoridade policial competente que em situações desta natureza tome as providências de seu ofício, dentre elas requisitar a quem de direito a retirada do corpo estranho do interior da pessoa investigada, com ou sem o consentimento da mesma, prosseguindo-se então com a regular formalização do flagrante, como de rigor é necessário (fls. 35).
Por sua vez, comunicada a E. Corregedoria Geral de Justiça, houve o entendimento de que “a r. decisão proferida pela magistrada está fundamentada (fls. 37/42) e constitui uma das possíveis interpretações para o tema objeto de indagação formulada pelo Diretor da Unidade Prisional”. E mais: “... o posicionamento da magistrada não é isolado na doutrina e na jurisprudência”. E ainda: “... a solução dada pela MM. Juíza é uma das possíveis para o tema, que tentou resolver questão de grande relevância”.
Por primeiro, é de se afirmar que os princípios da legalidade e da dignidade da pessoa humana limitam a discricionariedade jurisdicional. Nesse sentido, a jurisprudência encontra limites constitucionais. Como consequência, data venia, não se pode, com base em interpretações judiciais não pacificadas, suprimir eventuais lacunas, adotando-se funções legislativas.
O princípio da legalidade tanto demarca e estabelece limites formais ao intérprete do direito, como exige uma correlação material que impede eventuais interpretações analógicas em prejuízo das garantias de cidadania.
Por segundo, o exame invasivo, sem permissão do titular de direitos, acaba por se constituir em violência inadmissível num estado democrático de direito.
O entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, e encampado pela doutrina, com base na legislação em vigor, reconhece que o Estado não pode obrigar o indivíduo a se autoincriminar (nemo tenetur se detegere). Em todas situações semelhantes ao caso presente (em especial nos casos em que seria necessário exame de sangue para dosagem alcoólica) prevaleceu, para o STF, o direito fundamental sobre a necessidade da persecução estatal.           
Em nome de adequar-se a lei a outros fins ou propósitos não se pode cometer o equívoco de ferir os direitos fundamentais do cidadão, impondo-lhe, dede logo, um constrangimento ilegal, em decorrência de uma inaceitável exigência não prevista em lei.
Insiste-se: em nome de eventual segurança carcerária, o Estado não pode violentar a dignidade do ser humano, obrigando-lhe a se submeter a exame invasivo, para que a autoridade possa proceder “a retirada do corpo estranho do interior da pessoa investigada, com ou sem o consentimento da mesma”.
Com esses fundamentos, concede-se a liminar para que a decisão concessiva de exames invasivos fique suspensa até julgamento final deste “writ”.
Requisitem-se informações da autoridade coatora, remetendo-se os autos à Procuradoria Geral de Justiça e, em seguida, ao E. Relator Sorteado.

São Paulo, 18 de dezembro de 2012.

Marco Nahum
Relator
No impedimento ocasional do Relator sorteado

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Ato pelo Dia Internacional de Direitos Humanos em Floripa

Pesso@l!
Muito bom o vídeo produzido pela Elaine Tavares e Rubens Lopes, com imagens e entrevistas do Ato.
Abaixo o Manifesto escrito pelo Eduardo Granzoto de Mello, assinado por várias Organizações (inclusive a RENAP) e distribuído no dia do Ato.




O ano de 2012 vem testemunhando o emergir de uma outra Florianópolis! Das bases da cidade levantam-se cada dia mais as vozes dos trabalhadores pobres e dos marginalizados, rompendo a superfície mercadológica da Ilha da Magia. Revolta por vezes irracional e violenta, como nos recentes atentados aos ônibus, que suscitaram a repressão violenta pela polícia militar, mais uma vez com a transformação das comunidades de periferia em verdadeiros campos de concentração. Mas o canto do povo trabalhador não é só de dor, é sim um grito por dignidade, é o estalar de uma luta por direitos.
O que temos presenciado cada dia com mais força em Florianópolis é a luta organizada, política e pacífica do povo trabalhador por direitos sonegados pelo poder público e violados por uma sociedade que explora, oprime e marginaliza. Desde as greves dos bancários, dos trabalhadores do transporte público, dos correios, dos servidores e professores da rede estadual e da universidade federal e a corajosa luta hoje travada pelos trabalhadores da saúde estadual até a marcha das vadias por liberdade, os atos de solidariedade aos índios Guarani-Kaiowa, a luta contra o racismo representada pelo conjunto de atividades do movimento negro na última Semana da Consciência Negra, a luta em defesa da memória dos que tombaram na luta contra a ditadura e pela criação da Comissão da Verdade em nosso estado, o movimento dos familiares e amigos de presos denunciando à tortura na Penitenciária de São Pedro de Alcântara e o ressurgir da luta por moradia com atos no Norte da Ilha e a ocupação Contestado que vive hoje sob ameaça de despejo.
Nesta segunda-feira dia 10 dezembro é comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos, data instituída em 1948 na ocasião da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Para o povo trabalhador a verdade dos direitos humanos é uma só: nossos direitos só valem de verdade quando o povo organizado vai à luta, toma as ruas e reivindica sua efetividade contra os poderes instituídos! O respeito pleno à dignidade humana e realização das necessidades humanas serão conquistas da nossa luta, sem a luta organizada não passam de palavras bonitas no papel!
É neste sentido que as organizações, movimentos e entidades abaixo-assinadas convocam o conjunto do movimento popular, sindical e de juventude de Florianópolis para mais uma vez mostrar sua força na construção de um Ato Público Unificado neste Dia Internacional dos Direitos Humanos:

ATO PÚBLICO UNIFICADO: DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
DATA: 2ª feira 10 de dezembro de 2012
LOCAL: em frente à Catedral Metropolitana de Florianópolis
HORA: 17:00 horas.

Não ao despejo da Ocupação Contestado!
Pelo direito a moradia e por uma Cidade voltada para o povo trabalhador!
Contra a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais!
Pela apuração rigorosa das denúncias de tortura na Penitenciária de São Pedro de Alcântara!
Pela criação da Comissão da Verdade na Assembléia Legislativa!


Assinam esta convocatória:

Brigadas Populares
Coletivo Catarinense pela Memória, Justiça e Verdade
Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade – GAFPPL-SC
Ocupação Contestado
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia em Florianópolis e Região - SINERGIA
Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários - Florianópolis - SEEB
Associação Juízes para a Democracia
Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Estadual de Santa Catarina - SINTESPE
Memorial dos Direitos Humanos - UFSC
Coletivo Domínio Público
Movimento Passe Livre
ASSIBGE-SC
PIRA (Coletivo PIRA - Produção Integrada de Resistência Antimanicomial, Núcleo Florianópolis de Luta Antimanicomial)SinPsi-SC - Sindicato dos Psicologos de Santa Catarina
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST-SC
Consulta Popular SC 
Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário de Santa Catarina – SINJUSC 
Assembleia Nacional de Estudantes - Livre (ANEL)
Coletivo Anarquista Bandeira Negra
Portal Desacato
Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares - RENAP

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Nenhuma vaga a mais!



Pelo rompimento do encarceramento em massa e pelo resgate do Estado Social de Direito!

Nós, conselheiros da comunidade reunidos em Brasília, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2012, no I Encontro Nacional dos Conselhos da Comunidade, manifestamos por meio desta moção o nosso protesto e a nossa crítica às políticas penais adotadas pelo Estado brasileiro, cujo resultado é o processo cada vez mais intenso de encarceramento em massa da população pobre, negra, de baixa escolaridade e jovem, e toda a carga de mazelas e violações aos direitos humanos que daí deriva.
A superpopulação carcerária é o resultado de uma política neoliberal que visa ao desmantelamento das políticas sociais e ao controle da população pobre por meio do sistema penal, política na qual o Estado brasileiro responde a interesses políticos e econômicos que objetivam apropriar-se do sistema prisional enquanto negócio, o que se evidencia pela atual onda crescente de privatizações, que joga um peso ainda maior sobre o crescimento da população carcerária e inviabiliza qualquer programa de tratamento penal reintegrador.
A solução para o problema da superpopulação e para a crise do sistema prisional brasileiro não é a construção de novas vagas e de novas prisões, mas a inversão desta tendência punitivista e neoliberal em direção ao efetivo fortalecimento do Estado social, com a garantia dos direitos humanos em todas as suas dimensões, desde a integridade pessoal até os direitos à saúde, à educação e ao trabalho.
É neste sentido que nós, conselheiros (as) da comunidade e convidados, afirmamos de forma contundente: nenhuma vaga a mais! Nenhuma vaga a mais, o que queremos é:
- defensoria pública organizada, estruturada e presente em todas as unidades prisionais;
- a garantia efetiva do acesso universal ao Sistema Único de Saúde pelas pessoas privadas de liberdade, em todos os seus níveis, especialmente pelas mulheres encarceradas em suas especificidades de gênero e em relação aos seus filhos;
- a garantia da assistência educacional e capacitação profissional à população carcerária, possibilitando a efetividade da remição de pena inclusive pelo trabalho intelectual;
- a garantia da assistência material, social, psicológica, odontológica, terapêutica, nutricional e farmacêutica a todas as pessoas privadas de liberdade;
- a garantia do acesso pleno à informação e à educação em direitos humanos fundamentais à pessoa privada de liberdade;
- a criação de Comitês de Combate à Tortura em todas as Unidades da Federação;
- a eliminação completa e irreversível da revista vexatória aos visitantes das pessoas privadas de liberdade em todos os Estados da Federação;
- a erradicação das privatizações, terceirizações e qualquer outra forma de mercantilização dentro do sistema penal brasileiro;
- a erradicação da militarização da gestão, da vigilância interna e de serviços penais, exceto os guarda externa e escolta, nos termos das regras mínimas da ONU para o tratamento de reclusos;
- a garantia efetiva da participação social e do controle externo do sistema penal pela sociedade civil, especialmente através dos Conselhos da Comunidade e demais Conselhos e da criação das Ouvidorias independentes junto a todos os órgãos da execução penal.

Brasília, DF, 07 de dezembro de 2012.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ATENÇÃO! ATENÇÃO! ATENÇÃO!



A tortura é um instrumento político de opressão. Precisamos dar voz para uma população silenciada por sua condição de subjugo e estigma. Combatamos a tortura de maneira articulada e integrada. Pelo Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura!!!!!!

PELA APROVAÇÃO DO PL 2442/2011 JÁ!!!

1. Apoio à petição virtual http://www.avaaz.org/po/petition/Aprovacao_do_PROJETO_DE_LEI_PL_ndeg_24422011_da_Camara_dos_Deputados

2. Um “CURTaço” no Face https://www.facebook.com/criacaodosnpct

3. Enviando email para as lideranças da Câmara Federal abaixo relacionadas: 

PT – MARCO MAIA – dep.marcomaia@camara.leg.br
DEM - ANTÔNIO CARLOS PEIXOTO DE MAGALHÃES NETO - dep.antoniocarlosmagalhaesneto@camara.leg.br
PCdoB - LUCIANA BARBOSA DE OLIVEIRA SANTOS - dep.lucianasantos@camara.leg.br
PDT - ANDRÉ PEIXOTO FIGUEIREDO LIMA - dep.andrefigueiredo@camara.leg.br
PHS - JOSÉ HUMBERTO SOARES - dep.josehumberto@camara.leg.br
PMDB - HENRIQUE EDUARDO ALVES - dep.henriqueeduardoalves@camara.leg.br
PMN - JAQUELINE MARIA RORIZ - dep.jaquelineroriz@camara.leg.br
PP - ARTHUR CÉSAR PEREIRA DE LIRA - dep.arthurlira@camara.leg.br
PPS - RUBENS BUENO - dep.rubensbueno@camara.leg.br
PR - LINCOLN DINIZ PORTELA - dep.lincolnportela@camara.leg.br
PR - LINCOLN DINIZ PORTELA – dep.lincolnportela@camara.leg.br
PRB - ANTONIO CARLOS MARTINS DE BULHÕES - dep.antoniobulhoes@camara.leg.br
PRP - JÂNIO NATAL ANDRADE BORGES - dep.janionatal@camara.leg.br
PRTB - AUREO LIDIO MOREIRA RIBEIRO - dep.aureo@camara.leg.br
PSB - JOSÉ DE RIBAMAR COSTA ALVES - dep.ribamaralves@camara.leg.br
PSC - ANDRÉ LUIS DANTAS FERREIRA (André Moura) - dep.andremoura@camara.leg.br
PSD - GUILHERME CAMPOS JÚNIOR - dep.guilhermecampos@camara.leg.br
PSDB - ANTONIO CARLOS DE MENDES THAME - dep.antoniocarlosmendesthame@camara.leg.br
PSDB - BRUNO CAVALCANTI DE ARAÚJO - dep.brunoaraujo@camara.leg.br
PSL - RODRIGO MOREIRA LADEIRA GRILO - dep.dr.grilo@camara.leg.br
PSOL - FRANCISCO RODRIGUES DE ALENCAR FILHO - dep.chicoalencar@camara.leg.br
PT - ARLINDO CHIGNALIA JUNIOR - dep.arlindochinaglia@camara.leg.br
PT - JILMAR AUGUSTINHO TATTO - dep.jilmartatto@camara.leg.br 
PTB - JOVAIR DE OLIVEIRA ARANTES - dep.jovairarantes@camara.leg.br
PTC - EDIVALDO DE HOLANDA BRAGA JUNIOR - dep.edivaldoholandajunior@camara.leg.br
PTdoB - ROSEANE CAVALCANTE DE FREITAS - dep.rosinhadaadefal@camara.leg.br
PV - JOSÉ SARNEY FILHO - dep.sarneyfilho@camara.leg.br

sábado, 8 de dezembro de 2012

Contestado VIVE!

Pesso@s!

Agradecemos as manifestações carinhosas neste momento de extrema felicidade que vivenciamos junto às 92 famílias que moram, mesmo que precariamente, na Ocupação Contestado.
Todavia, não podemos deixar de destacar a importância fundamental que as Brigadas Populares têm desempenhado junto às famílias, inclusive com o intercâmbio de experiências com Minhas Gerais, Rio de Janeiro, dentre outras.
Neste sentido, nosso agradecimento especial vai para o Joviano Meyer e Larissa Pirchiner (Advogados das Brigadas de Minas), que foram imprescindíveis na construção da defesa jurídica, sem eles não teríamos avançado com esta luta.
Ainda, agradecemos ao coletivo de juristas catarinenses que nos deram o suporte para transformar a defesa das famílias em algo possível e com esperança de se ter o resultado que tivemos. 
Por fim, e não menos importante, agradecemos aos Drs. Samuel Martins e Marcos Rogério Palmeira, que contribuíram na revisão técnica do Agravo e foram com a gente fazer os "embargos auriculares" junto à Assessoria do Desembargador.
É isso aí... a luta continua até que estas famílias tenham todos os seus direitos fundamentais garantidos! 
Abraços,
Dani Felix e Dani Rabaioli

***
Vitória da Ocupação Contestado: 
Tribunal de Justiça derruba liminar de despejo



O desembargador Luís Zanelatto acaba de julgar procedente o pedido liminar de suspensão da ação de reintegração de posse. O recurso de autoria dos advogados Daniela Félix (Rede Nacional de Advogados Populares), Daniela Cristina Rabaioli (MST) e Joviano Mayer (Brigadas Populares) demonstrou que o processo contem várias irregularidades e insuficiências que impossibilitavam uma ação que causaria danos irreparáveis para as famílias do Contestado “as quais ficariam desalojadas abruptamente, quando, como já evidenciado, os autos encontram-se desprovidos de elementos mínimos a indicar que quem pleiteia a área para si seja efetivamente o legítimo possuidor daquele imóvel, o que autoriza a concessão do pretendido efeito suspensivo”.

O inteiro teor da decisão está disponível no site do Tribunal de Justiça. 

A vitória é temporária

A decisão foi por revogar a liminar e não pelo fim do processo. Isto significa que o mérito do recurso continuará a ser analisado, como afirma o desembargador na decisão: “observe-se, que a decisão acerca do pedido liminar em agravo de instrumento não tem por fim esgotar a apreciação do mérito recursal, que será ainda objeto de minudente análise pelo órgão Colegiado competente.”
Precisamos, portanto continuar acompanhando atentamente o processo judicial para garantirmos que o recurso seja aprovado completamente.

A vitória é parcial

O afastamento temporário do despejo é uma vitória imediata que deve ser comemorada por todos. No entanto, trata-se de uma vitória parcial, afinal, nosso objetivo é conquistar uma moradia digna para os moradores da ocupação Contestado. Neste sentido é fundamental que as negociações, motivadas pela ameaça de despejo, envolvendo o Ministério Público Estadual, a Secretaria do Patrimônio da União, e outros atores, continue na perspectiva de que as famílias sejam assentadas num terreno definitivo.

Vitória da organização popular!


Embora temporária e parcial esta vitória deve ser extremamente comemorada. Isto porque ela é resultado da organização das famílias sem teto da grande Florianópolis. Ao contrário da primeira ocupação, que foi instigada pelo oportunismo eleitoral de Djalma Berger, desta vez as famílias estão organizadas coletivamente, conscientes de seus direitos e dispostas a lutar para conquistá-los.Por isso é fundamental que todos comemorem esta vitória e, principalmente, ela é mais uma prova de que na luta só perde quem desiste!

Esta não é apenas uma vitória das famílias ocupadas, mas sim de todos aqueles que lutam contra os interesses do grande capital imobiliário de Florianópolis, contra os grileiros e especuladores que - como a imobiliária Suvec e sua proprietária, Florisbela Becker - colocam sua ganância acima da dignidade de milhares de famílias cada vez mais excluídas e segregadas. Esta luta é de todos aqueles que lutam contra a transformação da cidade em mercadoria de luxo, contra a cidade do capital.

Devemos comemorar, mas sem cair em ilusão: é fundamental manter a organização e ampliar nossa mobilização. Por isso estamos convocando a todos os movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e lutadores a unificarmos forças no ato público pelo do Dia internacional dos direitos humanos. Vamos às ruas comemorar nossa vitória e demonstrar nossa força.

Ocupar, resistir e construir!
Pátria Livre, venceremos!
-- 
Camila Rodrigues - 48-9963-2601 - milaca@gmail.com



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ocupação Contestado está ameaçada de despejo!





Uma liminar de reintegração de posse foi movida na última quinta-feira (29/11) contra a Ocupação Contestado em São José (SC), comunidade que completará um mês no próximo dia 7, pela Imobiliária Suvec, que também é proprietária do terreno que foi prometido pelo prefeito de São José, Djalma Berger, no início de outubro.
A ação tem vários indícios de irregularidades, que serão questionados judicialmente. O problema é que já foi articulada a mesma estrutura de repressão da primeira reintegração de posse, quando da promessa do prefeito Djalma Berger, no bairro de Serraria.
As famílias estão endividadas, não têm para onde ir e continuam precisando da solidariedade de todos. Por isso, precisamos do apoio de todos na divulgação do drama que vive mais uma vez essa comunidade e na articulação de ações de solidariedade.
Que haja uma negociação justa e que a poder público ofereça uma alternativa, de preferência permanente, de espaço digno para essa população.
Despejo, não! Estamos com o Contestado e lutamos!
Ocupação Contestado - http://contestadovive.org/

sábado, 1 de dezembro de 2012

CARTA ABERTA DA PASTORAL CARCERÁRIA AO MINISTRO DA JUSTIÇA JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO


Apóio e faço coro aqui à Carta Aberta da Pastoral Carcerária ao Ministro da Justiça.
A política por mais vagas no Sistema Prisional e Penitenciária é um equívoco completo à sociedade, que por outro lado tem servido muito àqueles que enriquecem com a "indústria do controle do crime", cf. Nils Christie.
Abraços!

===


Sr. Ministro José Eduardo Cardozo,

Há semanas, o senhor expressou, em evento público, a sua preferência por morrer a se subjugar a uma prisão brasileira, ocasião em que adjetivou o sistema prisional brasileiro como “medieval”. Indagado sobre as medidas possíveis à superação do descalabro do sistema prisional brasileiro, acenou para a construção de 60 mil novas vagas até 2014.

Antes de mais nada, cumpre-nos felicitá-lo pela ousadia em admitir os horrores que definem os cárceres brasileiros e que há tempos vemos e denunciamos, sem, no entanto, encontrarmos ecos nos gabinetes das diversas instâncias governamentais, dos diversos juízos de execuções, promotores, parlamentares, etc.

No entanto, mais importante do que admitir as mazelas do cárcere é elaborar política adequada à superação do problema. E, nesse ponto, discordamos integralmente da solução que o senhor apresenta!

Como se sabe, o Brasil tem hoje a quarta maior população carcerária do mundo (atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia), com mais de 515 mil pessoas presas. Entre 1995 e 2011, a população carcerária brasileira saltou de 148 mil para aproximadamente 512 mil pessoas presas: recrudescimento de 245%. No mesmo intervalo de tempo, a população brasileira cresceu 23% (IBGE).

Em agravo a esse quadro já crítico, notamos um total descaso com os direitos mais básicos da pessoa presa: apenas 10% têm acesso a alguma forma de educação; somente 20% exercem atividade remunerada; o serviço de saúde é manifestamente frágil, com quadro técnico incompleto e diversos casos de graves doenças e até de óbitos oriundos de negligência; as unidades são superlotadas: o Brasil tem a maior taxa de ocupação prisional (168%)[1] entre os países considerados “emergentes”.

Em tamanho cenário de violações, a talvez mais abjeta delas campeia: a tortura. São dezenas de denúncias que sucumbem sob descaso do Poder Público que não lhes dá o menor crédito.

Também a discriminação de classe é estruturante do sistema carcerário brasileiro. Impunidade, no Brasil, somente aos “grandes”. A população mais pobre (sobretudo os jovens e negros), pauperizada em uma história de injustiças sociais iniciada desde a invasão portuguesa, segue a superlotar um sistema prisional seletivo e degradante.

Essa seletividade revela-se ainda mais ultrajante se consideramos o quadro da população carcerária feminina. São cerca de 35 mil mulheres presas no Brasil, o que corresponde a 7,4% do total de presos. Apesar do reduzido número, quando comparado à população prisional masculina, nos últimos dez anos, houve um aumento de 261% da população prisional feminina, enquanto no mesmo período a população masculina aumentou 106%. Entre os anos de 2005 e 2010, das 15.263 mulheres que foram presas no Brasil, quase 10 mil o foram por tráfico de drogas, ou seja, aproximadamente 7 em cada 10 mulheres presas neste período são acusadas por tráfico de drogas.

Recrutadas em massa para o precário e perigoso trabalho de comercialização dos psicotrópicos, muitas vezes para sustento do próprio consumo do entorpecente, e sem ocupar postos de gerência na complexa cadeia do tráfico de drogas, as mulheres são, juntamente com a parcela pobre de nossa juventude, o principal alvo da guerra às drogas.
Bom lembrar que a maioria esmagadora das pessoas presas por tráfico de drogas é composta por pequenas comerciantes ou mesmo por meras usuárias.
Como se verifica, não apenas temos um sistema carcerário superlotado e degradante, mas também um sistema permeado de prisões ilegais, abusivas e discriminatórias.
Surpreende-nos que, diante deste cenário, o Governo Federal ainda fale em construir mais presídios. Ora, mais presídios para quê? Para quem?

Precisamos, urgentemente, reduzir a população prisional. Para ontem! Não é admissível que ainda se despenda orçamento público para a construção de novos presídios quando se forma o consenso de que a maioria da população prisional poderia estar solta!

Enquanto o senhor fala em construir novos presídios, centenas de jovens, quase sempre pobres, quase sempre negros, são mortos ou presos de forma abusiva cotidianamente.

Observe São Paulo, estado que tão bem conhece, no já demitente ano de 2012: são centenas de chacinas e execuções sumárias, admitidas pelo próprio Delegado Geral do Estado; paralelamente às chacinas, por mês entram, em média, 9.000 pessoas no sistema carcerário e saem 6.000 (ou seja: são 3.000 pessoas a mais a cada mês nas prisões paulistas).

A construção de mais presídios não atende a interesses públicos, mas sim a escusos interesses privados. Nos corredores do Governo Federal, são cada vez mais numerosas as vozes entusiastas da privatização do sistema prisional. Há projeto de lei a versar sobre o assunto e, nos estados, aumentam os anúncios e as iniciativas de criação de unidades prisionais privatizadas.
Por qualquer ângulo que se avalie, a privatização jamais poderá ser honestamente defendida como solução que atende ao interesse público. Obviamente, o custo da prisão aumentará, até porque não há iniciativa privada desprovida de apetite pelo lucro. Aquelas mesmas pessoas alijadas do exercício dos mínimos direitos fundamentais serão agora insumos para os interesses capitalistas.

Não precisamos construir mais unidades prisionais, tampouco podemos admitir que a restrição à liberdade seja objeto de exploração pela iniciativa privada!

Na qualidade de Ministro da Justiça, o senhor conta com uma série de expedientes capazes de ao menos aplacar os principais problemas por detrás da superlotação e da degradação carcerárias: o encarceramento em massa, a tortura e os massacres impingidos diariamente contra os mais pobres desse país.

Para tanto, poderia o senhor, por exemplo, se empenhar para barrar o processo de endurecimento penal, para desmilitarizar as polícias e para criar o mecanismo de prevenção à tortura com garantia da participação popular na escolha de seus membros. Poderia, ainda, aproveitar o importante instrumento do indulto, que confere ao Governo Federal a possibilidade de livrar da prisão tod@s aquel@s que manifestamente não poderiam estar pres@s.

Mais do que tudo isso, é fundamental que o senhor reveja a posição pela construção de mais presídios. A superlotação não deriva da ausência de políticas para a construção de presídios (nos últimos 20 anos, o Brasil saltou de 60 mil vagas para 306 mil vagas prisionais), mas sim, reiteramos, das prisões abusivas, ilegais e discriminatórias executadas contra as pessoas mais pobres desse país.

O “Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional” é um equívoco que reclama urgente reparo, sob pena de contribuir ainda mais para a expansão do sistema e da população prisionais.

Diante do exposto, clamamos para que o senhor combata o “medievalismo” do sistema prisional pela raiz: no lugar de construção de presídios, redução da população prisional!

Esperamos do senhor audácia e coragem para romper com esse processo de encarceramento em massa que está a serviço da reprodução e do aprofundamento das desigualdades sociais e da violência!

PASTORAL CARCERÁRIA NACIONAL - CNBB
Praça Clóvis Bevilacqua, 351 – Conj. 501.
Centro - 01018-001 - São Paulo - SP
Tel./fax (11) 3101-9419


[1] LONDON. King´s College, International Centre for Prison Studies. Disponível em: http://www.prisonstudies.org/

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ataques em SP: Imobilismo, corrupção e omissão do Estado


Muito boa entrevista e ótimo material disponibilizado pra pesquisa!

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Crime organizado cresce sob o imobilismo estatal, diz pesquisadora da Justiça Global

O componente corrupção, organização do crime por dentro do estado, tem que ser mais seriamente investigada. No nosso entendimento tem um componente econômico que é muito importante na deflagração dessa onda de violência"


Por Aray P Nabuco
Caros Amigos

Imobilismo do Estado, omissão em investigar e punir e corrupção dentro e fora das estruturas do poder público são os ingredientes que mantêm São Paulo refém de ataques do crime organizado, grupos de extermínio e revides extra-judiciais. Com períodos mais intensos, como o vivido atualmente, desde maio de 2006 o embate entre o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupos de extermínio e forças de segurança nunca parou de fato, diz a pesquisadora e co-fundadora da organização não-governamental Justiça Global, Sandra Carvalho. Junto com outros pesquisadores, Sandra é autora do mais completo estudo das causas dos ataques de maio de 2006, intitulado "São Paulo sob Achaque", baseado em pesquisa de 5 anos em documentos oficiais, inquéritos e entrevistas com autoridades policiais - o 'achaque' no título, faz referência direta à corrupção.

Previsível
Ao constatarem que as mesmas condições que detonaram os ataques de 2006 - corrupção, omissão, ausência de investigação e punição - continuavam existindo em São Paulo, os pesquisadores não titubearam em vaticinar, ainda no fim de 2010, que o Estado sofreria novos ataques. E acertaram - já são quase 100 policiais mortos e muitas chacinas nas periferias com mais de 200 assassinatos, o que levou o governador Geraldo Alckmin a derrubar seu secretário de Segurança Pública e substituí-lo e a aceitar ajuda do governo federal.
Em entrevista à Caros Amigos, Sandra aborda as constatações da pesquisa, os ataques atuais e sua relação com a ineficiência e corrupção no Estado. Para ler "São Paulo sob Achaque", clique aqui . 

Caros Amigos - Há uma omissão do Estado em tentar resolver esse problema?
Sandra Carvalho - O que a gente verificou na pesquisa é que as principais questões que estavam envolvidas no que se costumou chamar de Crimes de Maio não foram investigadas, não foram analisadas e não tiveram uma resposta adequada por parte do Estado. O trabalho chama "São Paulo sobre Achaque", houve até uma discussão do porque esse nome 'achaque', porque a palavra não é muito utilizada, mas é usada na polícia e fazia todo sentido com base no que a gente investigou, que é uma relação do crime organizado dentro e fora do Estado, de setores que estão dentro (das estruturas) do estado, mas que estão realizando atividades criminosas, com setores que são crime organizado por fora do estado. Há uma relação econômica, digamos assim, mas nunca foi investigada adequadamente.
Não houve essa resposta, não houve um enfrentamento de todo um setor que estava envolvido com corrupção dentro e fora do estado e que motivou muito dessas ações violentas, tanto por parte do crime, quanto por parte de setores do estado.
CA - Vocês citam a corrupção de policiais. O quanto da corrupção do poder público explica os ataques?
SC - Eu não sei quantificar, mas o que a gente pesquisou é que em maio de 2006, situações muito emblemáticas, como foi o sequestro do enteado do Marcola (líder do PCC na época), e depois a lista das transferências das lideranças, foram fundamentais para deflagrar os ataques do PCC e depois o revide da polícia.
Agora, algumas informações que venham por parte da polícia e que já foram dadas visibilidade pelos meios de comunicação, apontam que talvez isso também tenha acontecido. Eles falam da venda de uma lista ao PCC com nomes de policiais, enfim.
A gente viu também que tinham muitos policiais, principalmente civis, sendo investigados pela Corregedoria. E essas investigações nunca chegaram a termo, não resultaram em investigação isenta, séria. O componente corrupção, organização do crime por dentro do estado, tem que ser mais seriamente investigada. No nosso entendimento tem um componente econômico que é muito importante na deflagração dessa onda de violência, seja na ação das chacinas ou de grupos de extermínio, em grande parte integrados por policiais. Me lembro que na pesquisa, o então delegado geral, Desgualdo (Marco Antonio Desgualdo), quando indagado pela gente sobre quem eram os encapuzados, ele na entrevista à nossa equipe, falou "Eram PMs". Eram PMs, mas de lá para cá não teve uma investigação, uma apuração, não foram desmanteladas essas organizações criminosas, nem dentro do estado, nem de fora.
A gente falava que era importante uma investigação que envolvesse o Ministério Público Federal, a Polícia Federal. A gente recomendou, na verdade, a federalização dos crimes, para que não ficassem sendo investigado pela própria polícia paulista. Nós, em parceria com a Defensoria Pública de São Paulo e o movimento Mães de Maio, ingressamos com um pedido de deslocamento de competência para que as investigações passassem para a esfera federal.
CA - Mas isso também nunca ocorreu.
SC - Nós nunca tivemos um retorno da Procuradoria Geral da República, uma manifestação no sentido de que esse pedido avançasse e fosse encaminhado para o STF. Também foi formada uma comissão especial na polícia para investigar os crimes de maio, que infelizmente também não foi pra frente. O que a gente pôde acompanhar - nós integramos essa comissão especial, e temos conversado, dialogado sistematicamente com o grupo Mães de Maio -, é que também de maio de 2006 até agora, a gente teve momentos em que essa violência se intensifica. Mas se a gente olha para a Baixada Santista, por exemplo, a gente vê uma continuidade da ação de grupos de extermínio, das chacinas, com um perfil muito parecido com o que a gente identificou em maio de 2006.
Agora, a imprensa reforça algumas notícias de que algumas das vítimas tiveram a sua identidade, sua ficha criminal checada antes de serem assassinadas. O nosso relatório também mostra que isso aconteceu nas mortes de maio de 2006.
CA - Já era uma prática?
SC - Sim, já era uma prática. E há a proximidade entre a morte de um agente do estado com uma chacina que acontece logo em seguida. Assim, o que a gente vislumbra hoje é que realmente verifica-se algo muito parecido com maio e 2006.
CA - Quer dizer, o que está ocorrendo hoje é só uma continuação?
SC - Claro, porque não houve um enfrentamento adequado e à altura do que aconteceu naquele momento em 2006.
CA - Dá pra dizer que o Estado está em um imobilismo em relação a esse assunto?
SC - Sim, está num imobilismo e omisso porque esse relatório, por exemplo, foi entregue às autoridades públicas de São Paulo. Traz várias questões que deveriam ter uma análise mais aprofundada. A gente fez, por exemplo, um estudo de diversos casos registrados como "resistência", de como na verdade foram execuções. E não houve nenhuma movimentação por parte do poder público de São Paulo, do Ministério Público e mesmo do Judiciário de reabertura de muitos desses casos, de uma investigação mais exaustiva.
CA - No estudo, vocês fazem várias recomendações. Alguma delas foi realizada?
SC - Nos termos do que são as recomendações que a gente fez, muito pouco delas foi realizado. Uma das questões eram os mutirões carcerários, mas o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) teve muita dificuldade de realizar os mutirões, muita resistência do Estado, do próprio TJ de São Paulo (Tribunal de Justiça de São Paulo). E não foi feita de forma satisfatória, foram verificados vários problemas.
A gente falava também que seria super importante a instalação de uma comissão parlamentar mista de inquérito para apurar exaustivamente essa situação. Isso também não foi realizado, infelizmente. Também não foi feita uma revisão integral do trabalho de investigação, tanto da polícia, quanto também do próprio Ministério Público. Porque muitos inquéritos foram arquivados numa brevidade muito grande, inquéritos extremamente frágeis. E o MP jamais poderia ter concordado que investigações tão inócuas, tão incipientes fossem arquivados com tanta brevidade. Então, a gente recomendava que o Conselho Nacional do Ministério Público realizasse uma revisão integral da ação do próprio MP paulista nesses casos. Essa ação também não foi feita e no nosso entendimento também era importante de ser feito.
No estudo, a gente mostra como tudo foi conduzido para que não houvesse uma investigação. A ocultação das provas, por exemplo, no caso dos encapuzados, das chacinas. Os encapuzados chegavam, matavam e imediatamente na sequência chegava uma viatura da polícia, que recolhia o corpo e muitas das vezes as cápsulas, os projéteis que tinham sido disparados; nos inquéritos, só os policiais eram ouvidos, as testemunhas não foram ouvidas. Então, tudo o que é uma prática para a construção de um inquérito policial consistente, foi absolutamente desprezado.
Pelo que a gente está vendo novamente, essa mesma prática tem acontecido. Na investigação do que acontece hoje, em 2012, não houve uma modificação na prática de como essas investigações são feitas e muito provavelmente a gente vai ter resultado de não-investigação, de resultados insatisfatórios como a gente viu em maio de 2006.
É necessário um enfrentamento muito mais contundente, uma investigação mais rigorosa e externa, que se investigue a relação promíscua entre o crime organizado dentro e fora (das estruturas) do estado para que a gente não veja a repetição desses episódios.
CA - Vocês chegam a citar envolvimento de políticos. Vocês aprofundaram essa investigação?
SC - A gente não aprofundou, a gente fala que chegou a indícios e por isso a gente recomendava investigação. Nos chama atenção que várias crises envolvendo o sistema prisional, a começar pelo próprio Massacre do Cararndiru lá atrás, acontece em períodos eleitorais. A gente está saindo de um período eleitoral agora; em maio de 2006 a gente também estava em um processo eleitoral. As movimentações que acontecem dentro de um período eleitoral nos mostraram que deveriam ser investigadas a fundo.
Muitas relações envolvendo parlamentares, políticos, algumas movimentações nos trouxeram indícios, mas não houve tempo de fazer uma investigação rigorosa nesse sentido.
CA - Mas é possível afirmar que o PCC tem uma ideologia política e quer influir nos processos políticos?
SC - Eu não tenho elementos para dizer isso. Mas uma das suposições que a gente tem, é que o PCC talvez tenha até abandonado essa vontade que ele tinha - já tiveram denúncias na imprensa - de ter candidatos.
Mas mais do que isso, quero deixar bem claro, de forma muito incipiente, nos parece que esses momentos eleitorais são muito propícios para negociações, acordos, transações econômicas. Eu diria mais por aí. Por isso que a gente recomendou investigações mais rigorosas.
CA - Forçar uma situação de acordo, de conversa.
SC - Exatamente. Para com setores do crime organizado dentro do estado.
CA - Vocês chegaram a detectar relações permanentes do PCC com outras facções fora do Estado de São Paulo?
SC - Não. As nossas investigações apontam através de entrevistas que foram feitas, e mesmo pela documentação produzida pelos órgãos de imprensa, que dentro do sistema prisional de alguns estados via-se movimentação de filiados do PCC. Mas a gente não investigou a ação do PCC em outros estados. Isso ocorre, inclusive, pelas próprias transferências após rebeliões, enfim. Então, a gente identificou que tinham integrantes do PCC esparramados por presídios de outros estados.
CA - Essas facções, como o PCC, parecem um fenômeno de São Paulo e Rio de Janeiro...
SC -
 Mas é diferente. Sou de São Paulo, há 20 anos acompanho a situação prisional de São Paulo e há 7 anos no Rio de Janeiro. Vejo diferenças de como o crime se organiza dentro e fora do sistema prisional em São Paulo e Rio de Janeiro. Até porque, em São Paulo, a gente tem a predominância de uma facção e no Rio, tem mais facções coexistindo.
CA - Mas é um fenômeno que ocorre em outros estados?
SC - Vários estados têm facções. Vários têm o crime organizado dentro das estruturas do estado. Se a gente olha no Espírito Santo, por exemplo, é um estado que viveu situações do crime organizado, de ação de grupos de extermínio, do crime envolvendo esferas do poder público no Legislativo, no Judiciário, na polícia, dentro do sistema prisional. Então, assim, é um fenômeno que acontece também em outros estados, mas guardando as diferenças e características de como se organiza.
CA - Eu pergunto isso porque tem uma sensação da população de que o crime organizado é generalizado, no Brasil todo. É possível afirmar que o crime organizado se tornou um problema em todos os estados?
SC - Tem várias caracterizações para crime organizado. A gente tem que diferenciar o que é uma situação de violência do que é crime realmente organizado. Na situação de São Paulo, como é também um pouco a situação do Rio e é também do Espírito Santo, essa relação do crime que se organiza por dentro do estado é muito forte.
Se a gente pensa o Rio de Janeiro, por exemplo, onde o chefe da Polícia Civil foi preso, a cúpula foi desmontada por conta de seu envolvimento com o crime organizado, você tem essa relação mais direta com agentes do estado - o Álvaro Lins com a coisa dos jogos de azar, do jogo do bicho. No Espírito Santo também.

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