Vamos melhorar os argumentos pra reprovar as condutas antiéticas dos médicos que divulgaram irregular/ilegalmente imagens, boletins e até fizeram comentários de como tirar a vida de Dona Marisa Letícia.
"Vagabunda" e "monstro" não são argumentos, mas mera reprodução de ódio e misoginia.
Mais importante neste momento é buscar as responsabilizações
administrativas e judiciais (se for o caso) das condutas, bem como
refletir sobre a formação da classe médica nas cátedras.
Lembro
que não é de hoje que vemos instituições de representações da classe
médica se insurgindo contra políticas de saúde (ex. mais médicos),
financiando atos de setores empresariais (Cremesp/Fiesp) ou até mesmo
presos - em flagrante ou por investigações - por desvios de materiais
dos hospitais públicos e por serem funcionários fantasmas (ao ponto de
deixarem órteses dos dedos com digitais para outros marcarem o ponto
eletrônico). Nem vou tocar na questão do tráfico de órgãos.
Há
também inúmeros casos que podem ilustrar o que falo nas Faculdades de
Medicina, entre estudantes, como racismo, homofobia, crimes sexuais,
violências, incitações de todas as formas e, inclusive, mortes (vários
casos históricos e recentes).
Estamos falando de pessoas, na sua
quase totalidade, proveniente das elites, cercadas de privilégios, que
em grande medida passam alheias às esferas sociais e políticas. Raros
são os estudantes e profissionais que rompem os muros do Jardim do Éden e
se veem como humanos, igual a todos os outros, pois a lógica
empreendida nos cursos de graduação e especializações é a de formação de
Deuses e, uma vez conquistado este status, tornam-se seres acima do bem
e do mal, tomam pra si um "poder" de vida ou morte sobre os pobres
mortais.
Isso é tão assustador que parece irreal, mas não é,
além, é este poder que os tornam (quase) imunes a todas e quaisquer
transgressões éticas e ilegais.
O que vemos neste momento triste é apenas um grão de areia no deserto... infelizmente.
Em resumo: precisamos qualificar o debate. O ódio não é uma opção.
(Texto originalmente publicado no facebook:
Amigues do face, faço um apelo humanitário)