sábado, 7 de março de 2009

Para nunca perder de vista...

*Sebastião Salgado*





... qual o sentido do Dia Internacional da Mulher!


Na busca por um texto que certa vez eu li sobre as dúvidas que pairam sobre a instituição desta Data Comemorativa encontrei outro ainda melhor, denominado: "O OUTRO 8 DE MARÇO: LEMBRAR É RESISTIR", de ROBERTO BARROS (íntegra), que por meio de investigações documentais escassas que se referem aos fatos da época, contradizem todo o "conto do vigário" que se propaga há anos neste 8 de março destituído de significado, ou melhor, com um significado ideológico importantíssimo que leva a lógica do Modelo Capitalista como o "bom moço da história", além da assepsia do conteúdo político da luta de Classe das Mulheres Trabalhadoras, em detrimento do seu real significado con contexto Socialista, em que ELAS lutavam por condições dignas de TRABALHO, redução da jornada, salubridade, etc., dando início, inclusive, às lutas revolucionárias de 1917, segundo o Autor. Trago breve resumo:

"No dia 8 de março de 1857, trabalhadoras fabris de uma indústria têxtil de Nova Iorque, em greve e ocupação pela diminuição da jornada de trabalho, foram trancadas. A fábrica foi incendiada pelos patrões, provocando-se assim a morte de 129 operárias. No II Congresso Internacional das Mulheres Socialistas (Copenhague, Dinamarca, 1910), Clara Zetkin – principal delegada alemã e editora do jornal socialista A Igualdade –, propõe essa data como referencial para todas as mulheres comemorarem suas lutas e homenagearem suas martíres, em todo o mundo.

Invariavelmente esta é a versão, hegemônica, adotada para narrar e descrever a origem do que se conhece genericamente como o Dia Internacional da Mulher – reproduzida anualmente, com algumas alterações, em folhetos, boletins e publicações das mais diferentes organizações afins ao movimento de mulheres –, celebrado ao dia 8 de março de cada ano. Nada obstante, não há quaisquer evidências documentais – seja na imprensa burguesa ou mesmo nas numerosas publicações socialistas da respectiva época – sobre o suposto incêndio de 1857 (ou 1908, segundo outros). Mais ainda: no artigo mesmo em que Clara Zetkin propõe a criação do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora – publicado no jornal socialista A Igualdade; ainda sem qualquer data preestabelecida para a dita celebração – tampouco há qualquer menção ao suposto incêndio de Nova Iorque. A “versão nova-iorquina” (sobre a origem do 8 de março) teria sido resultado involuntário de uma malha causal de sucessivas justaposições entre datas, locais e fatos diversos – oriunda simultaneamente de abundantes registros de lutas operárias, do final do século XIX ao início do século XX, que nos EUA e Europa tiveram significativa expressão feminina (...) - segue.

Aproveitando a oportunidade, informo a ADESÃO EM MASSA de Campanhas Sociais de relevância, que merecem divulgação e discussão ampla pela mídia.

*Todos os Selos encontram-se no RODAPÉ do Blog e na Página Inicial do Site, ADOTE-OS TAMBÉM!!!
*o símbolo do ALFINETE é da Luta pela Discriminalização do Aborto e escolha da Maternidade sem Riscos, capitaneada pela "Women on Waves", uma organização não lucrativa holandesa preocupada com os direitos humanos das mulheres. A sua missão é prevenir gravidezes indesejadas e abortos inseguros pelo mundo inteiro, suas intervenções são feitas em um Barco no Mar Internacional, em que não incide qualquer legislação... INTERESSANTÍSSIMO!


(continuação do resumo) Em 1921 realizou-se – em Moscou, na então União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS) – a Conferência das Mulheres Comunistas que adota o dia 8 de março como data unificada para o Dia Internacional das Mulheres Socialistas. A partir dessa Conferência, a recém-criada III Internacional divulgará a data do 8 de março como efeméride de celebração e homenagem à luta das mulheres contra a opressão em todo o mundo. Segundo Coté, “uma camarada búlgara propõe o 8 de março como data oficial para a jornada, lembrando a iniciativa das mulheres russas [de 1917]”. É a partir de 1922, portanto, que o Dia Internacional da Mulher Socialista é celebrado oficialmente ao dia 8 de março. Essa história se perdeu das “metanarrativas históricas” – como costumam dizer os pós-modernistas –, seja do movimento socialista, seja dos historiadores profissionais do período supracitado. Nada obstante, é parte fundamental da história social e política das mulheres trabalhadoras e, em especial, do movimento de mulheres socialistas do começo do século XX. Na Rússia pós-revolucionária, nos anos subseqüentes à Vitória de Outubro, o dia 8 de março era diligentemente celebrado. O que explica, então, o progressivo esquecimento histórico da celebração em si e, tão ou mais importante, de seu significado original? As circunstâncias através das quais opera este deslocamento político-ideológico sintetizam-se em um quadrante histórico aberto após o isolamento da Revolução Russa: (i) a derrota da insurgência proletária no Velho Continente (Alemanha, Áustria, Hungria e Itália) no pós-guerra, entre 1918 e 1922; (ii) a constituição de frentes populares (colaboracionismo de classe), abrindo passo à ascensão do fascismo e configurando nova derrota operária nos anos 30; (iii) o crescente processo de stalinização com afastamento de intelectuais dos partidos comunistas e, por fim, (iv) a subordinação do Trabalho ao Capital, mediante o boom econômico do segundo pós-guerra, sob as democracias parlamentares na Europa Ocidental. O período pós-45 marca, enfim, a adesão ativa dos partidos social-democratas e comunistas à Ordem do Capital. Trata-se de um produto eminentemente histórico. É uma angustiante e no mínimo dupla derrota do movimento operário: o triunfo fascista no Ocidente e a consolidação stalinista no Oriente. Os acordos contra-revolucionários de Ialta e Potsdam – firmados entre a burocracia moscovita e o imperialismo hegemônico – dividem o mundo, então, em áreas de influência entre os EUA e a ex-URSS. No afã de dar mostras de comprometimento “democrático” com a “coexistência pacífica”, o neoczár Stálin dissolve a estrutura político-organizativa da Internacional Comunista em 1943 – já com severas degenerescências burocráticas –, negando a perspectiva internacionalista da Revolução de Outubro com a qual foi fundada a União Soviética e a própria III Internacional. O objetivo era, sob o signo da “teoria do socialismo em um só país”, tranqüilizar os novos aliados imperialistas – à petição direta de Churchill e Roosevelt, em especial – sobre a inexistência de qualquer horizonte pró-revolucionário em seus respectivos satélites: os partidos comunistas do ocidente capitalista.


(...)
A construção mítica do 8 de março não constitui valor utópico na luta contra a opressão das mulheres. Significa, ipso facto, a omissão da verdade histórica – suficientemente plena de sentido – que impregna toda a luta da mulher no caminho por sua libertação. A comemoração dessa jornada de lutas só tem a ganhar com a retomada de sua significação histórico-identitária. Implica a reconstrução das origens do ideal socialista da maioria das mulheres que lutaram por uma nova ordem, sem exploração ou opressão do homem pelo homem e, especificamente, da mulher pelo homem. A medida mesma da superação das velhas contradições históricas em cada ordenação societal sempre será – como sabiamente afirmavam Fourier e Marx – a situação das mulheres. Um dia que quer retomar a tradição histórica das lutas de um outrora 8 de março precisa avançar – sem medo ou embaraço pelas derrotas sofridas nas revoluções sociais do século XX – rumo à conquista da real libertação feminina. Tal qual as revoluções proletárias, a luta anti-opressão deve saber sempre superar-se a si mesma.


Só assim poderemos enunciar a problemática que realmente interessa. Qual é, afinal, a real conexão entre a abolição das relações de poder entre os sexos e a luta por uma futura sociedade sem classes? Ou, por extensão, quais são as afinidades entre feminismo e marxismo? Em última instância, a resposta a estas perguntas deve ser encontrada no terreno fértil da História e – a sua vez – fecundada pela práxis. Se é verdade que a Ordem do Capital e a libertação das mulheres são irreconciliáveis entre si, também o é que um movimento social que encarne valores para além da opressão do homem sobre a mulher precisa ancorar-se, firmemente, entre aquelas e aqueles que produzem (e reproduzem) as condições materiais da existência humana na sociedade capitalista. Daí que a libertação da mulher não represente tão-só um problema de gênero mas, sobretudo, uma questão de classe. O resgate das origens socialistas e revolucionárias da luta contra a opressão das mulheres não se trata de um olhar perdido no passado. Muito pelo contrário. Trata-se de construir o futuro, hoje, sonhando o sonho juntos/as.





São a estas Mulheres que dedico este POST, que, segundo Simone de Beauvoir, em "O Segundo Sexo", ligam-se pelas lutas de classe, na busca de igualdades de gênero, que se reflete, em termos práticos, nas lutas políticas feministas tão esquecida e apedrejada pelas próprias mulheres burgeusas. INFELIZMENTE!


Diferentemente do que se propaga, a LUTA DAS MULHRES continua!

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