sábado, 19 de setembro de 2009

Juízo? Por quê?

 Companheir@s!
Por indicação e presente de uma Colega, Gaby, vi ontem este filme, "Juízo", de Maria Augusta Ramos, a mesma diretora de "Justiça" (2004).
Confesso que não é um filme propício para fazer antes de ir dormir, pois é incômodo, triste e, principalmente, revoltante (dormi mesmo assim angustiada).
Bom, hoje ao fazer minhas pesquisas para colocar no blog (claro!) fui analisar a ficha técnica e alguns artigos veiculados e vídeos, chegando a algumas considerações pessoais:

1. Definitivamente o espaço cultural de Florianópolis é cada vez mais dominado pela mídia comercial e enlatada. Tomei conhecimento do filme pela Gaby, pois até então Maria Augusta só havia produzido "Justiça", que vi, diga-se de passagem, naquela época porque fui convidada para a apresentação de lançamento na Associação dos Magistrados Catarinense, caso contrário, não sei se teria assistido. Além, sequer fazia idéia de que o Dr. Rubens Casara (agora Juiz do TJRJ) era o Defensor Público (risos!). Enfim... quero dizer que temos atualmente 13 salas de cinemas em 2 Shopping's e não temos quaisquer alternativas além dos "blockbuster's". É uma vergonha este monopólio cultural (nem vou entrar na discussão do valor, que também é vergonhoso!)... Atualmente, tirando os 2 filmes nacionais globais ("À Deriva" e "Os Normais 2"), todos são enlatados Made in USA, nada diferente têm sido trazido. Pergunto: É ou não uma ditadura cultural?

2. Mas, voltando ao "Juízo", eu gostei do documentário e acho que vale assistir, todavia o que me decepcionei foi o após com as pesquisas e falas dos produtores e autores. Embora esteja longe de uma sólida formação Acadêmica, tenho um olhar crítico sobre o Mundo e, principalmente, sobre a realidade do Sistema de Justiça Criminal. Vi o filme como uma denúncia ao trato desumano e a falta completa de percepção dos papéis exercidos pelos Representantes do Estado, ali no Documentário era o Estado contra aquelas Crianças, até aquele que deveria fazer a sua ampla defesa era uma peça meramente ilustrativa diante daquele olhar autoritário e moralista da Juíza (a que analisa grande parte dos casos). O Ministério Público, com exceção de 1 caso de flagrante erro do próprio judiciário (por esquecer que o "juridiquês" não habita no senso coumum, principalmente daquelas crianças semi ou mesmo analfabetas).
Penso, e os que assistiram ou forem assistir tirem suas próprias conclusões, a Juíza que se diz "isenta" - e a próproa Diretora na entrevista que trago abaixo afirma o serviço de amparo familiar que ela exerce (no meu entendimento desserviço) , mas passa quase que integralmente fazendo um julgamento moral pessoal sobre a infância, reafirmando o total império burguês, exerce INTEGRALMENTE a função do Judiciário enquanto protetor do patrimônio dos estratos mais altos em detrimento das mais inferiores.
Assim como em certo caso ela diz que não pode fazer nada por não ser responsabilidade do Judiciário o estado de conservação dos abrigos de menores e meios de convivências com os filhos e, sim, responsabilidade do Poder Executivo, deveria se manter adstrita a lei sem interferir no direito de liberdade da criança e se calar diante de comentários do tipo: "não vai mais arranjar filhos se não tem dinheiro pra sustentar", ou "roubar é bonito?", ou, ainda "eu posso te absolver, mas você vai carregar eternamente a culpa pelo ato que praticou". ISSO É COISA QUE SE DIGA?
Há muitas outras situações absurdas relatadas no Filme, mas vou guardar minhas críticas pra quem quiser "colocar a lenha na fogueira"!!!


Assistam ao trailler







Sinopse:
Juízo acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade diante da lei. Meninas e meninos pobres entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio.
Como a identificação de jovens infratores é vedada por lei, no filme eles são representados por jovens não-infratores que vivem em condições sociais similares.
Todos os demais personagens de Juízo - juízes, promotores, defensores, agentes do DEGASE, familiares - são pessoas reais filmadas durante as audiências na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos menores infratores.
Juízo atravessa os mesmos corredores sem saída e as mesmas pilhas de processos vistas no filme anterior de Maria Augusta Ramos, o premiado Justiça. Conduz o espectador ao instante do julgamento para desmontar os juízos fáceis sobre a questão dos menores infratores. Quem sabe o quê fazer?
As cenas finais de Juízo revelam as conseqüências de uma sociedade que recomenda "juízo" a seus filhos, mas não o pratica.


Ficha Técnica:
Brasil/ 2007/ 90 min. /35mm
Produção: DILER & ASSOCIADOS / NOFOCO FILMES
Direção/Roteiro: Maria Augusta Ramos
Produtor: Diler Trindade
Produtora Associada: Maria Augusta Ramos
Produtor Executivo: Telmo Maia
Produtor Delegado: Geraldo Silva de Carvalho
Diretor de Fotografia: Guy Gonçalves
Som: Pedro Sá Earp/ José Moreau Louzeiro
Montagem: Maria Augusta Ramos/ Joana Collier
Ediçção e Mixagem de Sons: Denilson Campos
Direção de Produção: Henrique Castelo Branco/ Mariana Vianna

Crítica:

Cidadãos só na cadeira do réu.
Ana Paula Sousa - Revista Carta Capital - 12.3.2008

A documentarista Maria Augusta Ramos tem um jeito manso de falar que destoa de contundência de suas imagens. Deve ter sido essa mansidão que tornou possível a realização de Justiça (2004). Um agudo retrato da rotina de juízes, defensores públicos e promotores de um tribunal do Rio de Janeiro, e de Juízo, que estréia nos cinemas na sexta-feira 14. Não fosse a confiança na diretora, a 2º Vara da Justiça do Rio e o Instituto Padre Severino não teriam possibilitado a construção desde raro documento sobre os menores infratores brasileiros.
Juízo nos leva às salas de audiência onde se decide o destino de garotos que na imprensa viram apenas iniciais. Os infratores, que por lei não podem ter o rosto revelado, foram filmados de costas e depois substituídos por não-atores de idade e situação social semelhante. Coube a esses jovens “dublês” repetir as frases registradas nos processos.
CartaCapital: a mistura entre ficção e documentário era um desejo como linguagem ou foi decorrência do tema?
Maria Augusta Ramos: Foi pura decorrência do tema, uma solução para humanizá-los. E é fácil encontrar em Bangu e Cidade de Deus adolescente com uma vivência semelhante à dos infratores. Esses dublês sentem que poderiam estar na sala de audiência. Eles fazem parte dessa geração consciente da miséria e da falta de perspectivas de futuro.
CartaCapital: Mas essa mistura de real e ficção incomoda, até porque todos parecem órfãos de uma porção de coisas.
Maria Augusta Ramos: Eles são órfãos de Estado, de cidadania e, quase sempre, de pai. A sociedade oferece tão pouco e pede tanto... Eles são tratados como cidadão apenas quando sentam na cadeira do réu. Que respeito a sociedade tem por ele? Eles não têm acesso a nenhum direito.
CartaCapital: Juízo nasceu como uma derivação de Justiça?
Maria Augusta Ramos: sempre me interessei pela Vara da infância, até porque, na Europa (a diretora se divide entre a Holanda e o Brasil), fiz filmes sobre crianças. No justiça, pensei sobre isso, mas nunca pensei que conseguisse filmar, que fossem abrir as portas para min.
CartaCapital: Juízes e promotores surpreenderam?
Maria Augusta Ramos: Eles trabalham num ambiente muito difícil e têm as mãos presas. O que a juíza (Luciana Fiala Carvalho) faz é uma terapia familiar muito forte. Ela fala das mães que falharam, ela é passional e fica incomodada com aquilo tudo.
CartaCapital: Como você se sentia quando terminou o filme?
Maria Augusta Ramos: Exaurida. Toda a equipe saía do Padre Severino bastante arrasada, desiludida. É difícil ver uma solução imediata. Qual a chance de a filha daquela menina de 13 anos ter um futuro diferente do da mãe? Mas a classe média, que é refém do medo, tende a ver os infratores como pessoas que não lhe dizem respeito.
CartaCapital: O que você diria as pessoas que não tem interesse em ver um filme sobre isso?
Maria Augusta Ramos: Acho que o filme vai ajudá-las a exorcizar essa realidade, mesmo que não no sentido racional. O Filme incomoda, mas te dá consciência, te ajuda a entender este País do qual a gente faz parte.



Fonte: http://www.juizoofilme.com.br

Abraços,
Dani Felix

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