Caríssim@s,
Acho que já publiquei esta fala de Galeano aqui no Blog ou em qualquer outro lugar por aqui... na virtualidade, mas isto não importa no momento.
Há dias tenho me sentido como se estivesse fora de mim, uma forma de me esconder de mim mesma e fugir dos problemas e das dores que carrego nas costas, dores essas que a cada dia aumentam, face a realidade que enxergo e os absurdos que vejo e ouço.
Como alguns sabem tenho acompanhado de perto as questões relacionadas às medidas socioeducativas, junto ao São Lucas, e todos os absurdos das micro e macropolíticas Institucionais ligadas à administração do estabelecimento. Para engrossar o caldo a nossa mídia de qualidade mais-que-duvidosa têm veiculado várias reportagens... claro que criminalizando ainda mais os Adolescentes que cumprem medidas naquela instituição.
MAS... como nem tudo é dor, preciso registrar a força da Juíza e Promotora da Infância e Juventude da Comarca de São José, Ana Cristina Borba Alves e Leda Maria Hermann.
Penso que na companhia Delas - como diz a Leda, nós 3 formamos o tripé da Justiça -, e mais várias outras Pesso@s engajadas na modificação das condições do Meninos e da estrutura, iremos conseguir fazer a diferença e, quem sabe (sendo otimistas!) inaugurar uma nova fase no cumprimento das Medidas Socioeducativas no Estado de Santa Catarina.
E em retribuição à fala da Ana Cristina, que me disse: "É sempre bom saber que há mais escutas para nossas falas que muitas vezes parecem solitárias", trago o Galeano neste momento, retirado do próprio trabalho dela de dissertação, enviado a mim, intitulado: EXCLUSÃO SOCIAL, INVISIBILIDADE E INCLUSÃO NO SISTEMA PENAL: A reincidência como resposta ao olhar do (O)outro, sob a Orientação do Prof. Dr. Salo de Carvalho, defendida na PUC/RS, em 2006.
Para que continuemos a olhar Tod@s @s Outr@s como Cidadãos de Direitos, não somente como "clientes" das duras mãos do Estado Penal.
Abraços e à luta!
Dani Felix
As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza,que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a
cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem
nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a
chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou
comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da
imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
Eduardo Galeano – O livro dos abraços
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